terça-feira, 29 de março de 2011

Hasteando Bandeiras Molhadas – Gabriela Jardim Aquino


Já há tempos
tentei fugir,
mas estava amarrado
até no descanso da rede.

Preguiça contemporânea,
trama de fios, estopa,
levitar apoiado
de quem não sabe voar.

Liberdade. Movimento. Apatia.
Tão perto e tão distante do mar
iludi-me saber andar sobre as águas.
Não querendo ser mais um
galho a afundar.

O vento.
A dúvida
de se deixar levar
ou se agarrar.

Liberdade. Movimento. Apatia.

Estouros de emoção.
A visão negra
de quem só sabe
olhar para dentro.

Mas é preciso
agarrar o que é distante,
alongar-se, estender-se
e distender-se de si.

Liberdade. Movimento. Apatia.

Estar preso apenas
por um fio entre
a realidade preto e branco
e todo o colorir

Andando sempre
no mesmo pêndulo.
Andando sempre
sem sair do lugar.

Liberdade. Movimento. Apatia.

Buscar. Eterno buscar.
Insatisfação de quem
se iludi no lúdico
de se recostar.

Querer ser
uma borboleta,
mas apenas prender-se
mais ao casulo.


Liberdade. Movimento. Apatia.

Foi então que
em um impulso,
de quem espera a muito
a beira do precipício, cai.

Agarrando-me até o último fiapo
do que eu tinha na sombra
de um passado, de um inseto preso
na teia diante do céu azul.

Liberdade.

Entregue a nostalgia,
que desperdicei
minhas últimas forças
neste lapso
de tempo incoerente
e ao fim de minha
ambiguidade
libertei-me.

Movimento.


E nos tempos do agora
ninguém mais
pode me ver,
pois quem está
preso a farrapos
só sabe dizer
que panos molhados
são perigosos.


Apatia


aquinojardim@blogspot.com

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